sábado, 9 de junho de 2012

Desigualdade de Weyl


Em 2007, um conhecido stick, um stick que de certa forma é observado pelos seus pares,  um tipo que se expressa com uma mão no bolso de sua calça e a outra livre fazendo movimentos como de um maestro que comanda uma orquestra sinfônica (acho que não sei defini-lo!), apresentou-me o seguinte problema:


É bem conhecido que os autovalores de uma matriz simétrica variam continuamente com a matriz. Podemos afirmar que essa variação é lipschitziana?

Aceitei o desafio e, juntamente com um colega de trabalho, obtive uma resposta positiva para a pergunta acima. Contudo, a solução obtida era muito feia e, para mim, aquela prova merecia ser esquecida. Antes de esquecê-la, refleti bastante sobre a seguinte frase de Michel Atiyah

"Existe teorema bonito com prova feia, mas não existe teorema feio com prova bonita".

Certamente, a dependência Lipschitz dos autovalores de uma matriz simétrica é um teorema bonito e, embora Sir Michael Atiyah trouxesse a permissão de termos provas feias para teoremas bonitos, eu sentia que aquele não seria o caso em que eu deveria me conformar com aquela prova, porque ela era demasiadamente feia. 

Pouco tempo depois, ministrando uma disciplina de álgebra linear, conheci uma prova adequada para a variação lipschitziana dos autovalores de matrizes simétricas.

O objetivo de hoje é mostrar de uma forma muito elegante a Desigualdade de Weyl, desigualdade que responde positivamente à pergunta daquele stick legal.

A partir daqui, passo à apresentação direta da Desigualdade de Weyl e sua prova. 

Inicialmente, lembramos que o espaço das matrizes de ordem n admite uma norma definida da seguinte maneira: dada uma matriz A de ordem n, A=max{|Ax| : xRn,|x|=1}.

No caso em que A é uma matriz simétrica é muito fácil mostrar que A coincide com o maior valor absoluto dos autovalores de A.

Antes de enunciarmos a desigualdade de Weyl, consideremos mais algumas notações. Para cada matriz simétrica M de de ordem n, estabelecemos que o i-ésimo autovalor de M, denotado por λi(M), respeita a seguinte ordem  λ1(M)λn(M).

Utilizamos xy para representar o produto interno euclidiano entre os vetores x e y em Rn.

Desigualdade de Weyl
Sejam A e B matrizes simétricas de ordem nEntão, vale a seguinte desigualdade: |λi(A)λi(B)|AB, i=1,,n.


Prova. Sejam {x1,,xn} e {y1,,yn} bases ortonormais de Rn em que xi é autovetor de A associado ao i-ésimo autovalor de A e yi é autovetor de B associado ao i-ésimo autovalor de B. Para cada j=1,,n, seja zj vetor unitário na interseção dos subespaços span{x1,,xj} e span{yj,,yn}. Como λj(A)Azjzj e λj(B)Bzjzj, obtemos:

λj(A)λj(B)λ1(AB).

Substituíndo A por A e B por B na desigualdade acima, obtemos:

λj(A)λj(B)λn(AB).

Juntando as duas últimas desigualdades, obtemos a almejada desigualdade de Weyl.
Final da Prova


2 comentários:

  1. Oi Alexandre!

    Confesso que pensando sem escrever em tal prova me ocorreu realmente algo feio e "sujo" rsrs. O pior que talvez funcione!

    Mas realmente (e esteticamente) a prova que você apresentou é bem elegante e leve!

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    Respostas
    1. Oi Rodrigo,

      se você tiver outra ideia para resolver o problema do stick legal, eu gostaria de discuti-la com você. O ponto é o seguinte: a prova que apresentei é muito elegante mas não dá para realizá-la sem escrever (ou seja, não temos um apelo geométrico). Se você idealizou uma prova sem escrever, imagino que essa prova tenha um apelo geométrico (e isso, para mim, é interessante)

      Obrigado pelo comentário

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