Em 2007, um conhecido stick, um stick que de certa forma é observado pelos seus pares,
um tipo que se expressa com uma mão no bolso de sua calça e a outra livre fazendo movimentos como de um maestro que comanda uma orquestra sinfônica (acho que não sei defini-lo!), apresentou-me o seguinte problema:
É bem conhecido que os autovalores de uma matriz simétrica variam continuamente com a matriz. Podemos afirmar que essa variação é lipschitziana?
Aceitei o desafio e, juntamente com um colega de trabalho, obtive uma resposta positiva para a pergunta acima. Contudo, a solução obtida era muito feia e, para mim, aquela prova merecia ser esquecida. Antes de esquecê-la, refleti bastante sobre a seguinte frase de Michel Atiyah
"Existe teorema bonito com prova feia, mas não existe teorema feio com prova bonita".
Certamente, a dependência Lipschitz dos autovalores de uma matriz simétrica é um teorema bonito e, embora Sir Michael Atiyah trouxesse a permissão de termos provas feias para teoremas bonitos, eu sentia que aquele não seria o caso em que eu deveria me conformar com aquela prova, porque ela era demasiadamente feia.
Pouco tempo depois, ministrando uma disciplina de álgebra linear, conheci uma prova adequada para a variação lipschitziana dos autovalores de matrizes simétricas.
O objetivo de hoje é mostrar de uma forma muito elegante a Desigualdade de Weyl, desigualdade que responde positivamente à pergunta daquele stick legal.
A partir daqui, passo à apresentação direta da Desigualdade de Weyl e sua prova.
Inicialmente, lembramos que o espaço das matrizes de ordem n admite uma norma definida da seguinte maneira: dada uma matriz A de ordem n, ‖
No caso em que A é uma matriz simétrica é muito fácil mostrar que \|A\| coincide com o maior valor absoluto dos autovalores de A.
Antes de enunciarmos a desigualdade de Weyl, consideremos mais algumas notações. Para cada matriz simétrica M de de ordem n, estabelecemos que o i-ésimo autovalor de M, denotado por \lambda_i(M), respeita a seguinte ordem \lambda_1(M)\geq\cdots\geq\lambda_n(M).
Utilizamos x\cdot y para representar o produto interno euclidiano entre os vetores x e y em \mathbb{R}^n.
No caso em que A é uma matriz simétrica é muito fácil mostrar que \|A\| coincide com o maior valor absoluto dos autovalores de A.
Antes de enunciarmos a desigualdade de Weyl, consideremos mais algumas notações. Para cada matriz simétrica M de de ordem n, estabelecemos que o i-ésimo autovalor de M, denotado por \lambda_i(M), respeita a seguinte ordem \lambda_1(M)\geq\cdots\geq\lambda_n(M).
Utilizamos x\cdot y para representar o produto interno euclidiano entre os vetores x e y em \mathbb{R}^n.
Desigualdade de Weyl
Sejam A e B matrizes simétricas de ordem n. Então, vale a seguinte desigualdade: |\lambda_i(A)-\lambda_i(B) | \leq \| A-B \|, \ i=1,\dots,n.
Prova. Sejam \{x_1,\dots,x_n\} e \{y_1,\dots,y_n\} bases ortonormais de \mathbb{R}^n em que x_i é autovetor de A associado ao i-ésimo autovalor de A e y_i é autovetor de B associado ao i-ésimo autovalor de B. Para cada j=1,\dots,n, seja z_j vetor unitário na interseção dos subespaços span\{x_1,\dots,x_j\} e span\{y_j,\dots,y_n\}. Como \lambda_j(A)\leq Az_j\cdot z_j e \lambda_j(B)\geq Bz_j\cdot z_j, obtemos:
\lambda_j(A)-\lambda_j(B)\leq \lambda_1(A-B).
Substituíndo A por -A e B por -B na desigualdade acima, obtemos:
\lambda_j(A)-\lambda_j(B)\geq \lambda_n(A-B).
Juntando as duas últimas desigualdades, obtemos a almejada desigualdade de Weyl.
Final da Prova